segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ser poeta...


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

                                   Florbela Espanca

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Poema baseado no livro " Sentimento do mundo" Criado pelas alunas: Amanda Lopes, Ana Carolina Mota, Jéssica Simões, Karoline Santos, Mayara Aquino e Thais Pereira do 3º A do Colégio Adventista de Interlagos. Lindo, lindo, lindo!!!!!





Lembro-me como se fosse ontem
Oh! Posso afirmar que jamais esquecerei
Carlos se encontrava cabisbaixo sobre a escrivaninha
Pergunta a mulher:
O que fazer?
Com coração choroso pensa em voz alta.
“Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem todos os homens...”
Para por um instante
Lembra-se de antigamente
... Lembra-se da paz...
... Lembra-se da liberdade...
Lembra-se do amor...
Pensando sobre a escrivaninha diz a mulher:
O que fazer?
“É preciso viver com os homens,
É preciso não assassiná-los,
É preciso ter mãos pálidas
E anunciar o fim do mundo.”
Pensando sobre a escrivaninha diz a mulher:
O que fazer?
Lembra-se de artistas que foram torturados
Lembra-se da guerra e dos olhos quepermanecem fechados
Em um vago momento ele para
Ouso lhes dizer que ele parou
Com uma caneta e um papel viu que poderia...
... Sim ele poderia fazer algo
Mesmo com o pessimismo...
Mesmo com as ideias presas...
... Sim ele poderia fazer algo
A mulher toca em seus ombros
Teme que o marido como outros se vá
Mas ele a olho com ternura e confiante
E começa a escrever suas cartas
A Mário de Andrade...
A Abgar Renault...
A Portinari...
A Ribeiro Couto...
Sim, ele escreve cartas aos amigos.
Cartas para anunciar o fim do mundo
Cartas em forma de poesias
... Poesias diretas
... Poesias irônicas
... Poesias de denuncia
... Poesias para abrir os olhos
... Poesias engraçadas
... Poesias sérias
... Poesias para abrir os olhos
Sim, ele escreve carta aos amigos.
Poesias que formarão um livro
Livro para anunciar o fim do mundo.
Ele banhado de sua ideologia
Ignora a forma
Ignora o papel
Ignora as antigas maquinas de poesias
Somente escreve
Para anunciar o fim do mundo
Podes perguntar: Por que?
Em um mundo onde se calam sempre alguem fala
Sempre haverá alguém para expressar a realidade
Um alguém para abriri os olhos
Carlos tinha essa finalidade
Para manter o bom riso, usou ironia.
Para despistar curiosos, fugiu do assunto.
Para impressionar muitos, falou forte...
... Forte como leão
... Mas forte que os soldados que tanto temia
Podem vocês se perguntar quem sou eu?
Ah! Eu sou ora de Carlos
Sou a alma de sua obra
Sou a posso falar a vocês a verdade
Não há poesia sem alma
Não há realidade sem verdade
Não há poeta sem poesia
Assim também como não pode existir o mundo sem sentimento
Carlos queria abrir os olhos
Queria anunciar o fim do mundo
Mostrar o vazio
Que poderia se tornar mais vazio
Vendo o presente não via futuro brilhante ou feliz
E a culpa é de quem?
Não se sabe
Agora eu ao entrar no livro
Faço-me a mesma pergunta que Carlos?
O que fazer?
“Tenho apenas duas mãos
E o sentimento do mundo,
Mas estou cheio de escravos,
Minhas lembraças escorrem
E o corpo transige
Na confluência do amor.”
Hoje posso dizer-lhes...
Antigamente ele gozava da liberdade e paz
“O céu era verde sobre o gramado,
A água era dourada sob as pontes,
Outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
O guarda-civil sorria, passavam de bicibletas,
A menina pisou a relva para pegar um pássaro,
O mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em redor de Carlos.”
Mas hoje não é mais
Infelizmente tenho que pedir desculpas...
... Sei que Carlos dizia para livrar-nos de papéis e idéias alheias, mas agora pegarei o papel para dizer-lhes

“No meio do aminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio d caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fadigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.”


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Soneto de separação, agora , só pra variar um pouquinho, Vinícius de Morais




Soneto De Separação

 

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto


De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama


De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente


Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cartas de amor... Mais um poema de Fernando Pessoa

Todas as cartas de amor...

 
Fernando Pessoa
(Poesias de Álvaro de Campos)

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21/10/1935